Casagrande fala da sobriedade durante pandemia e ‘volta à luta’ – Futebol

Casagrande fala da sobriedade durante pandemia e

Divulgação Casagrande fala sobre a luta contra a dependência química em seu novo livro

Nesta terça-feira (30), o ex-jogador de futebol e comentarista do Grupo Globo, Walter Casagrande, lança “Travessia”, o seu terceiro livro ao lado do amigo jornalista Gilvan Ribeiro, e expõe seus medos e traumas durante a luta contra a dependência química.

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Em entrevista ao iG Esporte, Casagrande falou sobre sua rotina durante a pandemia e revelou que lidar com a sobriedade durante o isolamento social não é a maior dificuldade, por conta dos períodos em que esteve internado em clínicas de reabilitação, mas que não consegue ficar tranquilo com as mortes por conta da Covid-19 e a postura do governo na crise sanitária.

“Eu fiquei internado um ano pra me tratar dentro de uma clínica psiquiátrica, sem ninguém, só pacientes e psicólogos. Demorou mais de seis meses para eu ver meus filhos e meus pais, então a questão de ficar isolado não está sendo um problema, porque eu estou isolado há quatro meses, mas já fiquei internado um ano, então eu tenho essa adaptação de estar fechado e não se desequilibrar”, explicou.

“Não está tranquilo porque eu estou vendo as pessoas morrerem, não está tranquilo que eu tô vendo as pessoas querendo voltar com o futebol, não está tranquilo porque eu estou vendo o governo federal em crise e sem dar apoio nenhum ao combate ao Covid-19, isso não está me deixando tranquilo, mas não é o suficiente para me abalar e me colocar em risco”, completou.

As críticas de Casagrande ao governo de Jair Bolsonaro e sua defesa pela democracia são cada vez mais frequentes, até mesmo durante a programação do Grupo Globo, e o comentarista garante que vai continuar na luta por mudanças na sociedade.

“Eu sou assim de personalidade, eu sempre fui um garoto que me posicionei na escola. Eu não consigo ficar olhando as coisas acontecerem. E essa pandemia fez com que isso não aflorasse mais forte em mim, porque o único modo que eu acho que nós podemos mudar alguma coisa na sociedade é com participação, com posicionamento tanto político, como em problemas sociais como racismo, democracia, homofobia, feminicídio e prostituição infantil”.

“Tem muita coisa de errado nossa sociedade que tem que ser mudada, mas não vai se mudar nada apenas conversando e olhando. Tem uma música do Raul que mostra bem a minha situação atual, eu não fico sentado no trono do meu apartamento com a boca escancarada esperando a morte chegar. Eu não sou assim, eu levanto, saio e vou para luta, porque esses são os meus princípios, são os meus valores e essa é a minha personalidade mesmo”, afirmou.

Por nunca deixar de se posicionar em defesa do que acredita, Casão frequentemente é alvo de ataques nas redes sociais, e por isso evita ler comentários que possam afetá-lo.

“Já me afetou essa situação das redes sociais. Eu não tenho Facebook e meu Instagram quem cuida é meu filho Leonardo, lá coloco minhas fotos, faço os textos, coloco os vídeos,faço homenagens. Sou eu que faço tudo daquele Instagram, mas eu não vejo comentário algum, não quero saber, não quero saber o que as pessoas maldosas estão falando de mim. Seria muito legal se eu pudesse ver as pessoas que me compreendem, que podem criticar e não concordar, mas com respeito. E o outro lado não respeita, então eu não quero nem fazer teste disso para ver se me afeta ou não”, concluiu Casagrande.

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Gilvan Ribeiro, jornalista e amigo pessoal de Casagrande, escreveu os três livros junto com o ex-jogador. Também em entrevista ao iG, falou sobre sua importância nesta “travessia” e dos momentos que foram mais marcantes.

“Como amigo eu sou um espectador privilegiado dessa travessia do Casagrande e procuro sempre acolhê-lo nas situações difíceis e que estar ao seu lado nos momentos de transição, como no Natal de 2015, que foi o primeiro que ele passou completamente sóbrio, em que reunimos nossas famílias numa celebração bem serena em uma cantina italiana, porque ele já não podia tomar nenhuma cerveja, mas eu acho que o meu papel principal na recuperação dele é como parceiro mesmo nos livros, porque eu tenho a oportunidade de fazer ele revisitar a própria história em uma perspectiva positiva dessa travessia”, disse Gilvan.

“Eu acho que o momento mais marcante da recuperação do Casagrande foi sem dúvida na final da Copa do Mundo de 2018, na Rússia, com aquele desabafo que ele fez em rede nacional. Ali não só ele emocionou o país inteiro com seu choro, com a sua sinceridade e humildade de se revelar em toda sua fragilidade com toda sua emoção, mas também serviu como marco para si mesmo para que ele visse que era capaz de passar um grande evento como uma Copa do Mundo, a primeira que ele passou completamente sóbrio, e isso reforçou muito internamente a própria capacidade de cumprir a travessia, eu acho que ali ele se deu alta e passou a ter a confiança de que nunca mais teria uma nova recaída”, relembrou o amigo.

O lançamento de “Travessia” acontece nesta terça-feira (30), às 19h, em live no Instagram da Livraria da Vila. O evento não será presencial por conta da pandemia do novo coronavírus.

“Lançamento de livro é uma festa. As pessoas se encontram, batem papo, divertem-se e, principalmente, celebram o autor. Fazer tudo isso à distância é estranho, perde o calor humano, mas é a realidade atual, em nome de algo muito maior, que é a saúde. Então, procuramos nos adaptar e transformar esses encontros virtuais em momentos agradáveis e que possam contribuir um pouco para ajudar as pessoas a enfrentar o isolamento”, disse Samuel Seibel, presidente da livraria.

Veja fotos da carreira do jogador: 

Fonte: esporte.ig.com.br/futebol/2020-06-30/casagrande-fala-da-sobriedade-durante-pandemia-e-volta-a-luta-pela-democracia.html