Caso Isabele: mãe dá detalhes sobre o último dia de vida da adolescente

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Isabele não resistiu e morreu no local (Foto: arquivo pessoal)

A mãe da adolescente Isabele Guimarães Ramos, 14 anos, – que morreu no dia 12 de julho com um tiro que saiu de uma arma segurada pela melhor amiga, também de 14 anos – contou em depoimento ao delegado Francisco Kunze Júnior, da Delegacia Especializada de Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente (Deddica) como era a amizade das duas adolescentes, como foi o último dia de vida da filha e os primeiros momentos após ela ser informada da morte de Isabele.

Segundo Patrícia Helen Guimarães Ramos, que é bacharel em direito, Isabele já era amiga da adolescente que estava com a arma que lhe tirou a vida há algum tempo, mas há dois anos a amizade ficou mais forte e, durante a pandemia, as duas ficaram ainda mais próximas.

Às vezes, a amiga ia à casa onde Patrícia morava com a filha Isabele e o outro filho, de 12 anos, mas era mais comum que Bel, como a adolescente era carinhosamente chamada, fosse à casa da família Cestari.

“Namoro tóxico”

Segundo a mãe, a filha gostava de ir à casa da amiga, pois lá era mais movimentado. Na casa dela, morava somente com a mãe e o irmão, visto que o pai morreu em um acidente de trânsito na Estrada de Chapada dos Guimarães há alguns anos.

No final do ano passado, conforme depoimento da mãe, a amizade entre as duas mudou um pouco, quando a amiga de Isabele começou o namoro com o rapaz que, segundo a família Cestari, levou a arma de onde saiu o disparo que vitimou Isabele para a casa da família no dia do suposto acidente.

Isabele considerava “tóxico” o namoro da amiga, pois o rapaz seria muito ciumento e possessivo. E o menino estava quase todos os dias na casa da namorada. Com isso, a adolescente, que não tinha namorado, mas, segundo a mãe, era heterossexual, ficou mais próxima da irmã da amiga.

As duas, no entanto, não tiveram nenhuma briga – assim como a mãe não sabe de brigas entre Isabele e o namorado da amiga. Pelo contrário, ela disse que Bel era amável e não se envolvia em conflitos.

Já os pais das adolescentes não eram próximos: conheciam-se apenas como vizinhos e se cumprimentavam. Patrícia disse no depoimento saber que a família Cestari era praticante de tiro esportivo, mas disse não saber se havia livre circulação de armas pela casa, “senão não deixaria”.

O último dia

No dia 12 de julho, um domingo, Isabele acordou por volta das 13 horas, tomou café da manhã e não almoçou. A mãe dela disse à polícia que a filha sempre fazia isso quando acordava tarde.

Ela pediu para ir para casa das amigas, que são irmãs, no mesmo condomínio em que ela mora, o Alphaville, em Cuiabá, pois havia sido convidada pelas duas para fazer uma torta. Por volta das 14 horas, Bel foi.

Às 20h43, a mãe olhou em seu celular para dar o horário exato no dia do depoimento, Patrícia ligou para Isabele dizendo para ela ir para casa. A filha disse que estava preparando risoto com as amigas, que iria comer e ir embora.

A mãe não perguntou quem estava na mansão dos Cestari. Por volta das 22 horas, a mãe da amiga da filha foi à sua casa de carro e lhe chamou às pressas, dizendo que havia acontecido um acidente, mas não sabia direito o que era.

Quinhentos metros separam as casas das duas famílias. Segundo o relato de Patrícia, a mãe da amiga de Isabele repetiu ter acontecido um acidente, um disparo com a Bel, mas que não sabia o que teria acontecido.

Patrícia foi até a casa com a mulher que a chamara e, ao chegar, mostraram para ela onde estava o o corpo de sua filha, no chão do banheiro do quarto da amiga. Ela entrou no banheiro e viu o pai da menina, Marcelo Cestari, fazendo massagem cardíaca em Isabele.

Ela perguntou a Marcelo se sua filha tinha pulso e ele respondeu que não sabia e pediu que ela olhasse. Ela se abaixou, virou a cabeça da filha, viu que parte do cérebro estava exposta e percebeu que Bel estava morta.

Terror pós-morte da filha

Ela se levantou, saiu do banheiro e questionou a todos que estavam na casa o que havia acontecido, mas ninguém soube responder. A amiga da filha, que segurava a arma no momento do suposto acidente, não estava presente no momento e, segundo Patrícia, nunca mais falou com ela.

No depoimento, Patrícia disse que posteriormente soube que a menina havia sido levada por um vizinho até a casa dele, onde ela trocou de roupa. A mãe do menino contou sobre a troca de roupas a Patrícia e disse que o filho contribuirá com a investigação.

Ela pediu que a mãe das amigas da filha a levasse para casa, pois havia esquecido o celular, e a mulher levou. No caminho, passaram na casa de um médico, que mora no condomínio e deixaram duas adolescentes, que o chamaram e voltaram para a casa.

Patrícia foi para casa, pegou seu celular, ligou para um médico amigo da família e voltou para a casa onde sua filha estava. Quando chegou, o médico Garibaldi estava no local, assim como o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que declarou a morte de Isabele.

A mãe se sentou na frente da casa e começou a notar pessoas agitadas andando pela casa onde tudo aconteceu, até mesmo um policial que não faria parte da equipe de investigação e o pai do namorado da menina que estava com a arma no momento do acidente – a arma utilizada está no nome dele -, e que o local não teria sido isolado imediatamente.

Ela não se lembra quem chegou primeiro, se a Polícia Militar ou a Polícia Civil. Mas no dia conversou com o delegado que, a princípio, ficou responsável pelo caso, Olímpio da Cunha Fernandes, acompanhada de seu cunhado, e perguntou o que havia ocorrido.

Sem explicações

O delegado respondeu, segundo Patrícia, que “tudo indicava ter sido um homicídio culposo, que foi um acidente, que a case caiu e a arma disparou de dentro do case”. Ela perguntou, então, se a case estava danificada. E o delegado teria respondido, ainda segundo o depoimento da mãe, “que havia uma ‘fissura’ e que isso indicava ter sido em decorrência do disparo”.

Ela perguntou como seria possível uma arma disparar dentro da case e, segundo Patrícia, o delegado Olímpio respondeu: “É isso que não está crível”.

Por um momento, segundo relato de Patrícia em depoimento, a arma de onde saiu o tiro que levou Isabele à morte sumiu. O cunhado dela chegou a questionar Marcelo Cestari sobre a arma e eles tiveram uma breve discussão por isso. Mas, por fim, a arma apareceu e foi entregue à polícia.

Patrícia também questionou o delegado Olímpio se a amiga da filha seria ouvida e ele disse que sim, mas em outro dia, pois a adolescente estava muito abalada. Depois disso, a mãe foi para casa.

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Fonte: OLIVRE.COM.BR