Policial Militar é condenado por chefiar milícia na Zona Oeste do Rio

Policial Militar é condenado por chefiar milícia na Zona Oeste do Rio

Fabiano Rocha/Agência O Globo – 02.06.2020 Anderson Gonçalves de Oliveira, o “Andinho Polícia”, no momento em que foi preso

A Justiça condenou o soldado Anderson Gonçalves de Oliveira, conhecido como “Andinho Polícia”, a oito anos de reclusão em regime inicial fechado.  O policial militar é apontado como um dos chefes de uma milícia que atua no Morro da Tirol, na Freguesia, na Zona Oeste do Rio. Preso em 2020, quando foi um dos alvos de uma operação da Polícia Civil e do Ministério Público do Rio (MP-RJ), Anderson permanece nos quadros da corporação, lotado na Diretoria Geral de Pessoal (DGP), unidade tida como uma espécie de geladeira na PM. No último dia 25, o boletim interno da Polícia Militar trouxe a informação sobre o início de uma Comissão de Revisão Disciplinar (CRD) contra o praça, procedimento que pode culminar em expulsão.

Na sentença contra Anderson, o juiz Bruno Monteiro Ruliere, da 1ª Vara Criminal Especializada — que tem como foco justamente processos referentes a organizações criminosas, milícias e afins —, frisa que “Andinho é sempre citado em investigações de homicídios por disputa de território”. O texto lembra, por exemplo, uma conversa interceptada entre outros dois réus na qual o PM é mencionado como sendo “quem arrumou ‘uns caras’ para ‘pegar’ alguém no interior da Gardênia Azul”, comunidade próxima à área sob domínio do soldado na qual ele também teria influência, sobretudo numa localidade conhecida como Chico City.

“As conversas telefônicas interceptadas demonstram que Anderson Gonçalves de Oliveira, vulgo Andinho, é citado em várias comunicações entre milicianos do Morro da Tirol, sempre colocado como pessoa do topo da hierarquia do grupo criminoso”, pontua outro trecho da decisão, tomada em setembro do ano passado. O posto de chefia foi usado como justificativa para majorar a pena do soldado, considerado como parte do núcleo nominado “comando geral” da quadrilha, descrita como um grupo que “emprega vasto material bélico na sua atuação delituosa”.

No mesmo processo, fruto de um inquérito conduzido pela Delegacia de Homicídios (DH), foram condenados outros oito integrantes do bando, nenhum deles policial militar como Anderson. Um deles é Almir Rogério Gomes da Silva, apontado como principal chefe do grupo ao lado do soldado. Os restantes são Fabiano Vieira da Rocha, o Fabi; Sidney William de Oliveira Barbosa, o Dinei; Silvânio de Oliveira Barbosa; José Inácio de Almeida Vieira; Vinicius da Silva Felipe; Rodney Fonseca de Abreu, o Índio; e Julio César da Silva Soraes, o Coelhão. Já três réus acabaram absolvidos, sendo dois PMs, que tiveram o “exercício da função” restabelecido na sentença.

Andinho, porém, não teve a mesma sorte. “Decreto em desfavor de Anderson Gonçalves de Oliveira a perda da função pública de policial militar”, afirma o juiz na sentença. A determinação é lembrada no boletim interno da corporação no qual consta a abertura do procedimento contra o soldado, publicado no dia 25 de março.

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No boletim, a PM afirma que o praça “adotou conduta absurdamente diversa daquela desejada de um membro da corporação”. O texto prossegue: “Em diálogo telefônico, o próprio policial, por meio de conversa com interlocutor não identificado, ocorrida em 10 de agosto de 2019, admite dominar áreas conhecidas como Parcão e Chico City, afirmando ainda, na mesma ligação, ser conhecido por todos na localidade como Andinho Polícia”. Também foi determinado no documento interno o recolhimento de armamento e munição em posse do soldado, bem como a apreensão da carteira funcional do mesmo.

Segundo o divulgado pela DH na ocasião da operação que desarticulou a quadrilha, em 2020, a milícia integrada por Anderson atuava em outros pontos além do Morro da Tirol e da Gardênia, como no bairro do Pechincha, também na Zona Oeste, e em Madureira, na Zona Norte. Os paramilitares, de acordo com as investigações, cobravam diversas taxas de comerciantes e moradores.

Entre os crimes cometidos pela quadrilha estavam a imposição de taxa de segurança, o controle do transporte ilegal de passageiros, a venda irregular de botijões de gás, o desvio de sinal de internet e TV a cabo (gatonet), agiotagem e construções irregulares em áreas de proteção ambiental. Andinho, segundo o MP-RJ, também atuava erguendo imóveis em um trecho da Barra da Tijuca, também na Zona Oeste.

As investigações começaram após o assassinato de Sergio Luiz de Oliveira Barbosa, o Serginho, em março de 2019. À época, era ele o chefe da milícia que domina o Morro da Tirol. O celular de Serginho foi apreendido e, com isso, a polícia identificou os demais integrantes do bando, bem como as atividades que eles controlavam com violência e ameaças.

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Fonte: ULTIMOSEGUNDO.IG.COM.BR