Uruguai corre para fechar acordo com a China antes de eleição no Brasil

Uruguai corre para fechar acordo com a China antes de eleição no Brasil

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O presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, quer que um tratado com os chineses seja definido já em 2022O presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, quer que um tratado com os chineses seja definido já em 2022| Foto: EFE/Raúl MartínezOuça este conteúdo

Num momento em que o aumento da influência militar e comercial da China causa preocupação em todo o mundo, especialmente entre analistas americanos, o Uruguai avança numa proposta para um acordo de livre-comércio com a segunda maior economia do mundo.

Um grupo de trabalho instituído no final de setembro está formatando um estudo de viabilidade para o tratado, que Montevidéu espera que esteja definido já em 2022.

“Acertamos com o governo chinês o avanço desse estudo de viabilidade conjunto para concluí-lo até o final do ano e, eventualmente, iniciar a segunda etapa, que é a negociação propriamente dita”, declarou o chanceler Francisco Bustillo.

Uma reportagem publicada em setembro pelo jornal uruguaio El Observador destacou que o presidente Luis Lacalle Pou tem pressa em acertar o acordo com os chineses devido a questões relacionadas ao Brasil.

Como o governo brasileiro vem mantendo uma “recepção aceitável” – nas palavras de Lacalle Pou – a um tratado do Uruguai com a China, o compromisso precisa avançar enquanto os brasileiros ocupam a presidência temporária do Mercosul e antes que comece a campanha presidencial, em que Jair Bolsonaro poderá ser substituído por um presidente menos simpático às pretensões uruguaias – a Argentina é contrária ao acordo, por entender que desrespeita os regulamentos do Mercosul.

“Hoje, temos uma determinada posição do Brasil. Não sei se ela vai mudar. O que eu sei é que a que temos hoje serve aos interesses uruguaios no caso de avançar bilateralmente com a China. Se nos serve agora, temos que aproveitar”, disse Lacalle Pou.

O aumento do poderio econômico da China nas Américas preocupa os Estados Unidos, que no final de setembro enviaram o assessor de segurança nacional adjunto do presidente Joe Biden, Daleep Singh, para visitas à Colômbia, ao Equador e ao Panamá para discutir investimentos em infraestrutura para neutralizar a influência chinesa na região. Ao mesmo tempo, sua sinalização sobre as negociações Pequim-Montevidéu ainda é tímida.

Na última terça-feira (9), a subsecretária de estado americana, Wendy Sherman, visitou Lacalle Pou em Montevidéu, e o foco da conversa foram “formas de aprofundar e expandir relações comerciais” entre os dois países.

Entretanto, a imprensa uruguaia destacou que Sherman em nenhum momento mencionou a possibilidade de um acordo de livre-comércio com os Estados Unidos, uma aspiração antiga do Uruguai.

Questionada sobre as tratativas uruguaias com a China, a subsecretária se limitou a dizer que “todos os países devem explorar todas as opções que lhes são apresentadas, desde que o façam com base no comércio limpo e transparente”.

EUA deixados para trás em seu próprio hemisfério

Em artigo recente publicado no site da revista sobre informações financeiras e de mercado Barron’s, Eric Farnsworth, chefe do Conselho das Américas em Washington e correspondente acadêmico da Academia Nacional de Economia do Uruguai, e Carlos Mazal, membro da mesma academia e do Conselho de Relações Internacionais do Uruguai, analisaram que a reação do governo Biden às negociações entre uruguaios e chineses será decisiva para o futuro da disputa Washington-Pequim na América Latina.

“Washington agora tem uma escolha: pode liderar, seguir ou sair do caminho. A forma como responderá aos novos desenvolvimentos com o Uruguai dirá muito sobre o desejo mais amplo de lutar pelas Américas”,  escreveram Farnsworth e Mazal.

“Se os Estados Unidos recusarem a oferta de aprofundar as relações econômicas com um país amigável, liberal, democrático, relativamente próspero e estável, situado entre as duas maiores economias da América do Sul, outros na América Latina rapidamente tirarão suas próprias conclusões”, acrescentaram. “Os Estados Unidos estão sendo deixados para trás em seu próprio hemisfério. E o tempo está se esgotando rapidamente.”

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Fonte: GAZETADOPOVO.COM.BR