Reprodução/freepikLatinhas de alumínio.
Quase 100% das latinhas de alumínio são recicladas no Brasil, um índice que coloca o país no topo mundial. No entanto, a alta demanda global pelo alumínio reciclado tem causado uma escassez de sucata no país, obrigando parte da indústria a importar esse material, como revelou Alfredo Veiga, vice-presidente de Metal da Novelis América do Sul, em entrevista à colunista do iG, Mariana Sgarioni.
A alta demanda acontece no momento em que o mercado de embalagens vive uma nova tendência: a substituição do plástico pelo alumínio em diversas categorias de bebidas, indo muito além das tradicionais cervejas e refrigerantes. Atualmente, é possível encontrar vinhos, cafés, chás, drinks prontos, cachaças, espumantes e até água em lata.
A escolha por consumir bebidas em embalagens mais sustentáveis reflete o interesse crescente dos consumidores por práticas ambientalmente responsáveis. Uma pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) revelou que 81% dos brasileiros adotaram hábitos sustentáveis sempre ou na maioria das vezes em 2023. O mesmo estudo apontou que, em 2022, esse número era de 74%.
Segundo relatório apresentado pela Associação Brasileira de Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas), dados referentes ao primeiro semestre de 2024 mostram um crescimento de 12% nas vendas de latinhas de alumínio em relação ao mesmo período de 2023.
Em entrevista ao Portal iG, a bióloga marinha Patrícia Farias de Souza, do projeto Lagoa Viva, mestre e doutoranda em Dinâmica dos Oceanos e da Terra pela Universidade Federal Fluminense (UFF), explicou que as empresas tentam alcançar o público engajado em causas ambientais.
“A demanda dos consumidores por produtos com menor impacto ambiental tem incentivado as marcas a adotarem embalagens mais circulares e ambientalmente responsáveis.”
De acordo com a bióloga, essa migração ocorre também pela busca de soluções mais sustentáveis e pela eficiência do alumínio em termos de reciclagem.
“As latinhas possuem uma taxa de reaproveitamento muito superior ao do plástico e podem ser recicladas infinitamente sem perda de qualidade.”
A embalagem mais circular do mercado
A lata de alumínio é a embalagem mais sustentável para bebidas do planeta e, segundo dados da Abralatas, são mais de 30 bilhões de unidades consumidas anualmente, ou 3 mil por segundo.
De acordo com Patricia, o alumínio é considerado o material mais circular pois sua reciclagem permite a recuperação total do metal sem degradação de suas propriedades.
“Isso significa que uma lata reciclada pode retornar às prateleiras em poucas semanas, transformando-se novamente em embalagem, sem necessidade de extração de novo minério. Esse ciclo fechado reduz o consumo de energia, as emissões de carbono e o volume de resíduos descartados no meio ambiente.”
A bióloga ressalta que a grande diferença entre o processo de reciclagem do alumínio e do plástico está na eficiência e na qualidade do material reclicado.
“iO plástico sofre degradação a cada ciclo de reaproveitamento, limitando seu uso futuro.”
De acordo com dados da International Aluminium, o consumo de energia primária para a produção global de alumínio primário foi de 186 gigajoules por tonelada. Em contrapartida, a demanda de energia primária para alumínio reciclado foi de 8,3 gigajoule por tonelada, resultando em uma economia de 95,5%.
A bióloga explicou que os maiores desafios ambientais enfrentados na cadeia de produção do alumínio ocorrem nas etapas iniciais.
“Especialmente na extração da bauxita e na produção primária do alumínio, que demandam alto consumo de energia e podem causar impactos ambientais significativos, como desmatamento e geração de rejeitos.”
Uma tendência global
A tendência da adoção de latas de alumínio para diferentes bebidas é mundial. Esse movimento é impulsionado por metas de sustentabilidade e compromissos ambientais assumidos por empresas em diferentes países.
“No entanto, o Brasil se destaca positivamente nesse cenário, sendo um dos líderes mundiais na reciclagem de latas de alumínio. Isso demonstra uma estrutura eficiente de coleta e reaproveitamento, além de uma forte conscientização ambiental entre consumidores e cooperativas de reciclagem”, diz Patrícia Souza.
O compromisso com iniciativas para mitigar e combater os efeitos das mudanças climáticas se estende aos governos dos 195 países que fazem parte do Acordo de Paris.
Em novembro de 2024, o Brasil entregou à Organização das Nações Unidas (ONU) a Nova Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC), que estabelece uma nova meta climática alinhada ao Acordo de Paris. A meta é reduzir as emissões líquidas dos gases de efeito estufa do Brasil entre 59% e 67% até 2035, em comparação com os níveis de 2005. O documento foi à Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima.
Fonte: ECONOMIA.IG.COM.BR