Divulgação Clima TempoCidades de SP registram temperaturas acima dos 37°C
Todo o ela faz tudo sempre igual.
Ela, no caso, é a TV aberta, que espalha câmeras e microfones em cidades litorâneas ou áreas com piscina para mostrar como os brasileiros estão enfrentando o calorão – que neste ano bateu recordes.
A abordagem tem um erro de saída, como alertaram alguns usuários das redes sociais cansados da mesma conversa. Geralmente as pessoas vão pra praia ou pra piscina para resolver o problema, não para viver um drama, como quase sempre é noticiado. O mesmo para quem decidiu abrir os bolsos e comprar equipamentos como ventiladores e ar condicionado.
O drama mesmo não é captado pela câmera – inclusive o do cinegrafista, este sim um trabalhador assolado pelo clima. E os repórteres. E os rapazes a vender sorvete ou bebida na faixa de areia pelando.
Debaixo do sol a novidade é que nunca enfrentamos uma onda de calor como esta. Há quem prefira negar os efeitos das mudannças climáticas. Não vê quem não sai da água climatizada.
Nesta época do ano, seria interessante que os veículos com maior acesso ao grande público registrassem também a vida de pedreiros, lixeiros e outros profissionais que correm risco de morte para que as cidades sigam funcionando sob condições extremas.
É hora agora de mostrar não as pessoas tomando refresco, mas as atitudes (ou hesitações) do poder público para lidar com a tragédia em curso. Como Cuiabá, que precisou reduzir e reorganizar as jornadas de trabalhadores de manutenção e limpeza urbana em expedientes concentrados em horários mais viáveis ao corpo humano – leia-se de manhã ou no fim da tarde.
Há casos também em que representantes acionam o Judiciário para antecipar ou ajustar turnos sempre que as temperaturas alcançam níveis de risco (ou seja, acima de 30 °C). É o caso dos trabalhadores dos Correios.
A recomendação, nem sempre cumprida, é que os contratantes normalizem pausas frequentes e garantam acesso a água potável e locais sombreados ou ventilados para descanso. Isso sem contar vestimenta adequada e proteção solar.
Sindicatos e órgãos de saúde pressionam o poder público para que tarefas mais intensas, como na construção civil, sejam realizadas fora do pico de calor, com pausas regulares – mais extensas quanto mais próximas das 12h.
No Ministério do Trabalho, está em curso um debate sobre a revisão de normas de segurança para incluir explicitamente a proteção contra calor extremo como um item de segurança básica.
A situação se complica quando o debate chega (não chega, na verdade) aos trabalhadores informais, como catadores de recicláveis.
Estes grupos são os que mais sofrem mais com o calor, e são os responsáveis por ajustar seus próprios horários e trajetos (o famoso vai pela sombra). A sobrevivência econômica, afinal, depende do trabalho diário e se eles pararem os bolsos esvaziam.
Este tema é tão urgente que neste ano chegou à COP30, em Belém, onde o presidente do Sindicato dos Eletricitários de São Paulo chegou a lançar o “Plano Verão” — um programa que prevê alertas de calor e pausas obrigatórias e monitoramento diário da temperatura para proteger os trabalhadores que enfrentam calor extremo durante as jornadas.
Nenhum deles pode se dar ao luxo de dar um mergulho para se refrescar e fugir do calor. É sobre eles que a atenção deveria estar voltada na cobertura da crise nesta época de calor agudo.
*Este texto não reflete necessariamente a opinião do Portal iG
Fonte: ULTIMOSEGUNDO.IG.COM.BR

