Reprodução/Arquivo FudarpePernambucana mantém viva tradição do parto natural há 70 anos
Por mais de sete décadas, Maria dos Prazeres de Souza, 86 anos, vem desempenhando um papel central na preservação do parto natural em Pernambuco. Com mais de 5 mil bebês assistidos, sua trajetória não se resume à experiência: Dona Prazeres dedica-se a transmitir seu conhecimento, formando uma rede de mais de 200 pupilas que seguem seus passos no ofício de partejar. As informações são da BBC News Brasil.
A formação das pupilas acontece de maneira prática, com encontros na própria casa de Dona Prazeres, em projetos sociais ou em associações como a das Parteiras Tradicionais e Hospitalares de Jaboatão dos Guararapes, da qual ela é presidenta. Entre suas realizações, destaca-se o trabalho à frente do Projeto Comadre, nos anos 1980, que buscava garantir direitos básicos a mulheres em situação de vulnerabilidade.
Hoje, estima que mais de 2 mil mulheres foram capacitadas por ela, embora cerca de 200 atuem de forma regular como parteiras. Diferente de muitas de suas pupilas, Dona Prazeres não nasceu em uma família de parteiras. Ela descobriu a prática após ser adotada por uma mãe parteira, realizando seu primeiro parto aos 15 anos. Desde então, sua vida tem sido dedicada a essa missão, enfrentando desafios que vão do isolamento geográfico ao risco pessoal.
O trabalho das parteiras tradicionais é especialmente relevante em áreas remotas, onde o acesso a hospitais é limitado. A prática do parto natural resiste em um país marcado por altas taxas de cesarianas. Dados do Ministério da Saúde indicam que o Brasil realiza cerca de 3 milhões de partos por ano, sendo 1,68 milhão cirúrgicos — quase metade sem indicação médica. Na Região Metropolitana do Recife, mais da metade dos partos são cesarianas, refletindo uma cultura de medicalização e preferência por procedimentos hospitalares. Especialistas alertam que cesarianas desnecessárias podem gerar complicações e atrasos na amamentação e no vínculo mãe-bebê.
Em Pernambuco, a rede de Pupilas da Prazeres surge como uma alternativa para mulheres sem acesso rápido a hospitais ou que poderiam optar por cesarianas desnecessárias. O legado de Dona Prazeres combina sabedoria ancestral, conhecimento técnico e profundo respeito pelo corpo e pela experiência da mulher.
Fonte: DELAS.IG.COM.BR