‘400 mil retratos do que não fizemos’, diz pesquisadora da Fiocruz sobre mortes

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Brasil bate a marca de 400 mil mortes Creative Commons Brasil bate a marca de 400 mil mortes

Pioneira no combate da Covid-19a pneumologista e pesquisadora da Fiocruz Margareth Dalcolmo ficará feliz de estar errada, mas está convencida que o mês de maio será o mais triste de nossas vidas. Em março de 2020, quando a pandemia tinha acabado de chegar ao país, Dalcolmo foi a primeira a afirmar que o Brasil rejuvenesceria a Covid-19, com mais jovens doentes. Acertou. Disse que 2021 teria o janeiro, o fevereiro, o março e o abril mais tristes de nossa história. Os  400 mil mortos provam que estava certa. Mas ela diz: “Nunca foi tão terrível acertar”.

Por que você acha que este será o maio mais triste de nossas vidas?

Não queria ter que dizer isso e será uma alegria estar errada. Mas esse será o maio mais triste de nossas vidas porque o número de mortos continuará a subir. Todos os indicadores sinalizam que a matança continuará em maio e junho. Pense que em quatro meses de 2021 morreram mais pessoas do que em todo 2020.

Como chegamos a 400 mil mortos?

São 400 mil retratos do que não fizemos. Retratos da falta de vacinação desde janeiro e do baixíssimo distanciamento social. Muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas com vacinação e com medidas não farmacológicas, isto é, distanciamento social, uso de máscaras e testagem em massa. Não precisávamos ter tantas mortes, mesmo com as variantes.

E a testagem?

Tampouco testamos em massa e fizemos rastreamento de contatos. Isso é fundamental para identificar os positivos e isolá-los. Também é essencial fazer o básico, testar pelo menos quatro contatos de cada positivo, o que ajuda muito a controlar a transmissão.

Que outras medidas seriam necessárias?

Uso de máscaras. O governo nunca distribuiu máscaras, ao contrário, seu uso foi desestimulado. Houve e há um discurso antagônico. Houve contestação da ciência. O governo não usou os meios de comunicação de massa para informar corretamente a população e ainda faltou aos médicos uma retórica homogênea e com consistência, a favor dos fatos científicos.

Qual o impacto das variantes do coronavírus?

As variantes são resultado da alta circulação do vírus e alimentam um círculo vicioso, com mais transmissão. Devemos rezar para que não espalhem por aqui as variantes indiana e sul-africana, contra as quais as vacinas da AstraZeneca e a NovaVax (sem previsão de uso no Brasil) não tiveram boa resposta.

E o que podemos fazer?

Precisamos acelerar muito o ritmo da vacinação e ter mais transparência do número de doses compradas, distribuídas e aplicadas.

Fonte: SAUDE.IG.COM.BR