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Na China, o uso de máscaras vai muito além de uma medida passageira da pandemia do Covid-19. O item permanece presente no cotidiano, seja como proteção contra a poluição do ar ou diante da ameaça de vírus respiratórios sazonais.
O hábito, incorporado no dia a dia, voltou a ganhar relevância em janeiro deste ano, quando províncias do norte registraram aumento de casos de infecções respiratórias agudas, como o vírus sincicial respiratório ( VSR), rinovírus e o metapneumovírus humano (hMPV).
Conforme o Centro de Controle e Prevenção de Doenças da China ( China CDC), a intensidade das infecções foi menor do que no mesmo período de 2024, mas as autoridades recomendaram a retomada do uso de máscaras em ambientes de maior risco.
A poluição do ar e os vírus respiratórios
Grandes centros urbanos chineses, como Pequim, convivem com índices elevados de poluição atmosférica. Dias de neblina densa e de concentração elevada de partículas finas (PM2,5) tornam as máscaras uma forma de proteção adicional contra doenças respiratórias relacionadas à qualidade do ar.
Esse cenário se conecta a um problema antigo: a chamada “guerra à poluição”, declarada em 2013. De acordo com a DW, a concentração de partículas tóxicas no ar caiu 33% nas cidades do nordeste em 2017 em comparação ao ano anterior, evitando na época cerca de 160 mil mortes prematuras, segundo estimativas do Greenpeace.
Em províncias industriais, como Heilongjiang, a poluição chegou a piorar, com aumento de 10% nas partículas tóxicas, impulsionado pelas emissões de setores como a siderurgia. E mesmo nas cidades que apresentaram melhora, episódios de fumaça densa seguiam comuns.
Segundo o Índice de Qualidade do Ar de Pequim, em dezembro de 2017 os níveis de poluição atingiram “muito prejudiciais à saúde”. Para os moradores, a máscara deixou de ser exceção e virou parte do cotidiano.
Durante a pandemia de Covid-19, a adesão ao uso de máscaras atingiu níveis históricos no país. A medida, inicialmente imposta como obrigatória, acabou sendo incorporada de forma duradoura pela população, que passou a associá-la não apenas ao coronavírus, mas também à proteção contra gripes, resfriados e outros agentes infecciosos.
Em episódios mais recentes, como o surto registrado em janeiro, o acessório voltou a ser indicado pelas autoridades de saúde como medida preventiva. Apesar de o Ministério da Saúde considerar baixo o risco de uma pandemia causada pelo hMPV, as orientações de cuidado e prevenção seguem sendo reiteradas.
O que dizem os especialistas?
Em entrevista ao Portal iG, o infectologista Leandro Curi, destacou que a eficácia das máscaras varia de acordo com o tipo utilizado, já que cada uma oferece um nível diferente de proteção contra partículas tóxicas do ar.
Ele explicou que a N95, equivalente à PFF2, é a que garante maior capacidade de filtragem e que as máscaras cirúrgicas conseguem barrar partículas um pouco maiores. Quanto à eficiência das máscaras de pano, ele diz que está diretamente ligada à porosidade do tecido.
Segundo o especialista, todas oferecem algum grau de proteção, mas o nível de eficácia varia de acordo com o modelo escolhido.
“Todas elas vão proteger de certa forma a inalação de partículas que vão para as vias aéreas superiores e inferiores, mas pode haver algum escape, e isso vai variar com o tipo de máscara”.
Curi também ressalta que, no caso dos vírus respiratórios, mesmo as máscaras cirúrgicas já são bastante eficazes:
“As máscaras comuns que a gente compra em farmácia são justamente as cirúrgicas. Para vírus como o sincicial respiratório, rinovírus, influenza ou até o coronavírus, a máscara cirúrgica já tem excelente eficácia quando bem ajustada ao nariz e à boca”.
Sobre o uso em períodos de surtos virais, o infectologista reforça que o acessório pode reduzir de forma significativa a transmissão em grupos de risco, mas depende do uso correto.
“É razoável que quem apresenta sintomas respiratórios utilize máscara em locais de contato próximo, como transporte público, trabalho ou até mesmo em casa. Isso evita que gotículas expelidas ao falar, tossir ou espirrar atinjam outras pessoas. Do mesmo modo, quem quiser usar para prevenção também estará protegido, desde que a máscara esteja bem colocada cobrindo nariz e boca. Aquelas mal ajustadas, no queixo ou abaixo do nariz, praticamente não funcionam”.
O que é o hMPV?
O metapneumovírus humano (hMPV) é um agente respiratório capaz de provocar quadros leves, semelhantes a um resfriado comum. Descoberto em 2001, integra a família Pneumoviridae, a mesma que inclui o vírus sincicial respiratório (VSR), além de agentes como o sarampo e a caxumba.
A circulação do HMPV é mais frequente durante o inverno e o início da primavera, períodos em que aumenta a incidência de doenças respiratórias.
Crianças, idosos e pessoas com imunidade comprometida estão entre os grupos mais vulneráveis, tanto para contrair a infecção quanto para desenvolver complicações mais graves.
A transmissão ocorre, principalmente, por meio de gotículas expelidas ao tossir ou espirrar, mas também pode se dar pelo contato com superfícies contaminadas, seguido do toque em olhos, nariz ou boca. Esse modo de contágio torna espaços fechados e aglomerações ambientes favoráveis para a disseminação do vírus.
Fonte: SAUDE.IG.COM.BR