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Cordão de Girassol: acessório de inclusão enfrenta desafios

Cordão de Girassol: acessório de inclusão enfrenta desafios

Reprodução/ Hidden Disabilities SunflowerCordão de Girassol

Criado em Londres em 2016 pela organização Hidden Disabilities Sunflower, o cordão de girassol se consolidou como um símbolo internacional de identificação para pessoas com deficiências invisíveisou seja, aquelas que podem não ser aparentes em um primeiro momento.

Mais do que um acessório, o item atua como uma ferramenta de comunicação não verbal, indicando que seu usuário pode necessitar de mais tempo, paciência ou até de apoio específico em diferentes situações do dia a dia.

No Brasil, o cordão ganhou força com a Lei nº 14.624/2023, que oficializou o girassol como símbolo nacional das deficiências ocultas.

Destinado a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando à sua inclusão social e cidadania.

Ferramenta de conscientização

Em entrevista ao Portal iG, a psicóloga sistêmica Ana Claudia Gouvéa destaca que o cordão tem como objetivo principal promover conscientização e evitar situações de maior dificuldade em locais públicos.

“No Brasil observamos o uso do cordão mais comumente para identificar pessoas que se encaixam no espectro autista garantindo o acesso a direitos como atendimento prioritário. Ele ajuda as pessoas a reconhecerem a necessidade de apoio e a evitarem constrangimentos em locais públicos”explica.

Segundo a especialista, o recurso também facilita a vida de pessoas em ambientes de estímulos intensos, como supermercados, cinemas ou shoppings. Ainda assim, ela reforça:

“Devemos entender que a utilização do cordão é opcional, pois apesar da luta pela conscientização, as pessoas devem ter o direito de manterem sua condição no anonimato se assim desejarem”.

Quais são as doenças que permitem o uso do cordão?

A lista de condições que podem justificar o uso é ampla, algumas que podem ser citadas são:

O acessório também pode ser usado de maneira temporária por pessoas em tratamento contra o câncer ou em fase de recuperação pós-cirúrgica.

Desinformação e banalização

O iG também conversou com o neuropsicanalista Flavio Calheiros, que destaca o cordão como um recurso ao mesmo tempo discreto e de grande eficácia.

Para o neuropsicanalista, o acessório funciona como um recurso que atua como uma comunicação não verbal em espaços como  aeroportos, rodoviárias, hospitais, restaurantes e outros serviços, alertando que aquele indivíduo pode precisar de um atendimento mais empático.

Entretanto, ele afirma que a desinformação é o maior entrave da expansão e efetividade dessa iniciativa no país.

“As pessoas que não entendem ou não conhecem esse símbolo vão pensar que é só um acessório. Um tipo de porta crachá ou um chaveiro, e isso vai gerar frustração tanto para quem faz o uso, quanto para aqueles que fazem parte da rede de apoio”.

Flavio Calheiros ainda alerta que a ausência de conhecimento tem efeitos diretos no atendimento. Funcionários de serviços de saúde, transporte ou comércio, por exemplo, podem não oferecer o suporte adequado simplesmente porque não sabem o que o símbolo representa. 

Dessa forma, em certos momentos, a pessoa com deficiência invisível corre o risco de ser ignorada ou até confundida com alguém que busca privilégios, como furar filas. E isso leva a situações constrangedoras, tanto para o usuário do acessório quanto para quem reage de forma equivocada e depois entende a real situação.

Para Calheiros, o que falta para ampliar a efetividade do cordão de girassol no Brasil, é investimento em campanhas de conscientização massivas e políticas públicas estruturadas.

Segundo ele, o país é abrangente e a falta de informação faz com que o símbolo seja reconhecido apenas em algumas cidades ou estabelecimentos mais preparados.

“Deveria, por exemplo, existir um treinamento obrigatório de todos os servidores de serviços essenciais e do comércio. Campanhas de conscientização midiática, além de leis municipais, estaduais e federais”afirma.

Calheiros também afirma que outro desafio em torno do cordão de girassol está em garantir sua efetividade sem banalizá-lo

Afinal, o símbolo não deve ser visto apenas como algo ligado a um diagnóstico específico, mas como uma forma de sinalizar que a pessoa precisa de empatia, paciência ou suporte, seja em casos de neurodivergência, doenças graves ou situações temporárias, como um pós-operatório. 

Por isso, a conscientização é fundamental para evitar mal-entendidos e reforçar o verdadeiro propósito do acessório.

O especialista ainda sugere que, além do girassol, poderiam ser incorporados símbolos complementares ou campanhas educativas adaptadas às culturas regionais, utilizando linguagens artísticas e referências locais. 

O objetivo dessas implementações seria ampliar o alcance da mensagem e garantir que o cordão seja compreendido em todo o Brasil, preservando sua função de inclusão e respeito, ainda mais diante da diversidade cultural presente no país.


A experiência na pele 

O presidente do Autistas Brasil, Guilherme de Almeida, compartilhou ao  iG, sua experiência com o uso do cordão e trouxe algumas reflexões sobre os limites e as contradições vividas no dia a dia.

Segundo ele, o cordão pode, sim, abrir caminhos em determinadas situações.

“Já utilizei em situações específicas, como em aeroportos ou hospitais, porque ele pode facilitar o atendimento. Para mim, o cordão é útil, mas também carrega uma contradição: se a inclusão fosse plena, eu não precisaria exibir um símbolo para ser tratado com respeito”ele afirma.

Ele também recorda que, em algumas situações, conseguiu perceber a utilidade prática do cordão:

“ Nos aeroportos, por exemplo, ele é reconhecido e recebi um atendimento mais paciente. Nessas horas vejo sua eficácia. Mas também me pergunto: por que só sou tratado com empatia quando tenho uma fita pendurada no pescoço? Isso mostra que ainda não vivemos em uma cultura de inclusão de verdade”.

Quando perguntado se ele já havia passado por momentos em que as pessoas não reconheceram ou não entenderam o significado do cordão, ele relatou um momento difícil: 

“Sim, e foi muito doloroso. Uma vez, ao visitar o Museu Imperial de Petrópolis (RJ), fui interpelado por um segurança que perguntou qual era a minha deficiência. Respondi que era autista, mas ele insistiu em “ver” a deficiência para comprovar. Mostrei o CIPTEA, documento oficial da pessoa autista, e ele não tinha ideia do que era. Me senti profundamente aviltado e entrei em crise, o segurança me ameaçou”. 

Guilherme ainda complementou dizendo: “Aquilo que deveria ser um símbolo de acolhimento acabou se tornando um constrangimento público, mostrando como ainda falta preparo para lidar com a diversidade invisível”.

Ele ainda acrescenta que, embora reconheça que o cordão traga sensação de segurança para muitas pessoas e que respeite isso, a sua experiência pessoal é marcada por raiva e incômodo. 

E deixa uma reflexão: “Por que eu devo exibir uma particularidade da minha vida para poder ser respeitado ou tratado com dignidade? Inclusão verdadeira não pode depender de um acessório, mas de uma cultura em que o respeito esteja ligado ao ser humano, e não a um símbolo externo”.

Para Guilherme, o uso do cordão não representa pertencimento, mas sim um incômodo. 

Segundo ele, “é como se a minha dignidade estivesse vinculada a uma fita no pescoço, e não à pessoa que eu sou. Isso é frustrante, porque mostra que o respeito ainda depende de um símbolo visível: só sou tratado com paciência e acolhimento quando o utilizo. Inclusão verdadeira só existirá quando a dignidade for reconhecida como algo incondicional, presente em nossas relações do dia a dia”.

Ele também afirma que “campanhas de conscientização e treinamentos são fundamentais, mas não bastam. O cordão precisa ser reconhecido, sim, mas o objetivo não pode depender dele para sempre. Inclusão plena é quando o acolhimento acontece naturalmente, com ou sem cordão, porque a dignidade de cada pessoa já é reconhecida ”.

O Portal iG também entrevistou a multiartista, Larissa Jardim, conhecida por  EuLÁ, para conhecer um pouco da vivência dela com o uso do cordão de girassol.

EuLá conta que começou a fazer uso do cordão girassol por possuir uma deficiência invisível. “Tenho deficiência visual, sou uma pessoa baixa visão e o cordão de girassol me auxilia nesse sentido além da bengala que eu também faço uso”explica.

Ela acrescenta que é difícil apontar um momento específico em que o cordão tenha funcionado como facilitador de respeito ou reconhecimento, já que a falta de conhecimento das pessoas sobre o seu significado muitas vezes impede esse efeito.

“É difícil dizer um momento em que o cordão me favoreceu nesse sentido. Infelizmente a gente vive em uma sociedade que a maioria das pessoas não consegue identificar do que se trata. Muitas pessoas não sabem o que significa, e portanto, não respeitam a necessidade”, explica.

EuLÁ conta que sua motivação para usar o cordão não foi tanto buscar os benefícios diretos que ele poderia garantir, como atendimento prioritário ou acolhimento diferenciado, mas sim fortalecer a causa da conscientização.

“Faço o uso do cordão para fortalecer a causa e mostrar para a sociedade e a minha comunidade, a cidade em que eu vivo, interior da Bahia, Vitória da Conquista, para que esse objeto fique mais evidente mais visto e a partir daí que ele seja mais identificado no seu significado”.

Ela também conta que por já fazer uso de outro identificador de pessoa com deficiência, os impactos do cordão foram mais sutis.

“Eu faço uso de outro objeto que também me identifica como pessoa com deficiência que é a bengala verde. A bengala verde é um objeto de identificação para pessoas que têm deficiência visual baixa visão. Então eu acredito que eu não tenha passado por uma situação de não ser reconhecida como tal, porque antes mesmo de conhecer o cordão, eu já fazia uso da bengala verde”.

A multiartista também afirma que, ao descobrir o cordão de girassol, sentiu entusiasmo e esperança por ver tantas pessoas empenhadas em melhorar a vida de quem possui algum tipo de deficiência.

Para ela, o simples fato de existir um símbolo já representa um avanço, pois mostra que há pesquisas, leis e iniciativas em andamento para garantir direitos e acolhimento.

Ela reconhece que a disseminação do conhecimento sobre o cordão ainda é lenta, mas acredita que falar sobre o tema ajuda no processo de aceitação e identificação de pessoas com deficiências invisíveis.

“Eu sei que ainda estamos engatinhando para disseminar esse conhecimento, então poder falar sobre isso agora é algo que me muito feliz e esperançosa de que cada vez mais as pessoas se conscientizem de que outras pessoas com deficiência invisível que ainda não sabem da existência desse cordão que que elas possam viver isso, porque é um processo lento de aceitação e de entendimento”.

E complementa: “Já ouvi relatos de pessoas em outros países inclusive que se surpreenderam ao ver que estão usando o cordão de girassol e receber de uma determinada equipe em um local um total acolhimento e eficiência e cuidado em um ambiente. Então eu acho que é a alegria ela vem pelo que está sendo conquistado e não porque já foi conquistado” .

Também questionada sobre mudanças necessárias para ampliar o reconhecimento do cordão de girassol, EuLÁ destaca a importância da educação e da informação, especialmente em empresas e instituições que lidam com o público.

Para ela, somente a conscientização pode transformar os espaços e promover a verdadeira equidade, que significa atender às necessidades específicas de cada pessoa.

Ela também compartilha que ainda está em processo de se habituar ao uso diário do cordão, algo semelhante ao que viveu com a bengala verde, cuja adaptação exigiu tempo e amadurecimento emocional. 

E ressalta que quanto mais o acessório for visto, mais será reconhecido, mas alerta para a necessidade de uso consciente: pessoas sem diagnóstico não devem utilizá-lo, pois isso pode prejudicar quem realmente depende do recurso.

Fonte: SAUDE.IG.COM.BR

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