I.AExcesso de açúcar no Natal afeta o bem-estar das crianças
As festas de fim de ano têm um papel importante no desenvolvimento emocional de crianças e adolescentes. O Natal fortalece vínculos, promove sensação de pertencimento e cria memórias afetivas fundamentais para a saúde emocional.
No entanto, do ponto de vista da saúde infantil, o período também concentra um aumento significativo no consumo de açúcar e os efeitos desse excesso costumam aparecer antes mesmo de qualquer impacto no peso ou em exames metabólicos.
De forma geral, a pediatria e a endocrinologia pediátrica apontam que o açúcar em excesso atua rapidamente no organismo infantil, especialmente no cérebro.
Picos frequentes de glicose, associados à quebra de rotina, menos horas de sono e maior exposição a estímulos, podem interferir na regulação emocional, na atenção e no comportamento, mesmo em curto prazo. Estudos recentes seguem mostrando associação entre padrões alimentares ricos em açúcar, pior qualidade do sono e maior irritabilidade em crianças, especialmente quando esse consumo é repetido ao longo de vários dias.
Ao mesmo tempo, o Dr. Mário Roberto Hirschheimer, pediatra do Hospital Santa Catarina – Paulista, reforça que o olhar sobre a alimentação no Natal precisa ser mais amplo e cuidadoso. Segundo ele, as festividades de fim de ano são momentos valiosos para a saúde afetiva de crianças e adolescentes, justamente por favorecerem convivência, prazer e fortalecimento de laços familiares, aspectos essenciais para o bem-estar global.
Do ponto de vista médico, a alimentação equilibrada não deve ser analisada de forma isolada ou restritiva, mas dentro do contexto de hábitos contínuos. Sono adequado, atividade física, organização emocional e relações sociais saudáveis fazem parte do mesmo conjunto de cuidados. Por isso, transformar o açúcar em vilão absoluto ou impor restrições rígidas e sem orientação tende a ser contraproducente e pode gerar culpa, ansiedade ou relação disfuncional com a comida.
A ciência reforça que o maior problema do açúcar no Natal não está em um doce específico ou na ceia em si, mas na repetição diária ao longo de todo o período festivo. Sobremesas constantes, bebidas açucaradas disponíveis o dia inteiro e “beliscos” frequentes criam um padrão alimentar que se estende por semanas. Esse cenário favorece picos glicêmicos repetidos, maior preferência por alimentos doces e dificuldade de retomar a rotina alimentar após as festas.
Nesse contexto, alterações no sono, na atenção e no humor se tornam mais evidentes. Crianças podem dormir mais tarde, ter despertares noturnos, acordar mais cansadas e apresentar maior irritabilidade e dificuldade de concentração no dia seguinte. Esses sinais costumam ser os primeiros alertas de que o consumo de açúcar e a desorganização da rotina já estão impactando o bem-estar.
Para os pais e responsáveis, o desafio está em estabelecer limites sem transformar o açúcar em fonte de conflito. A pediatria orienta que a melhor estratégia é organização e previsibilidade: manter refeições principais equilibradas, definir momentos específicos para o consumo de doces, incentivar água como bebida principal e preservar horários mínimos de sono. Celebrar faz parte, mas a estrutura do dia continua sendo fundamental.
O médico também destaca que, sempre que surgirem dúvidas ou dificuldades para conciliar as festas com a rotina da criança, o caminho mais seguro é buscar orientação com o pediatra. O acompanhamento profissional permite adaptar as recomendações à realidade de cada família, respeitando tanto a saúde física quanto o valor afetivo das celebrações.
Em resumo, o excesso de açúcar no Natal não precisa ser motivo de medo nem de culpa. Com equilíbrio, atenção à rotina e orientação adequada, é possível preservar o prazer das festas sem comprometer o bem-estar infantil.
Fonte: SAUDE.IG.COM.BR