I.ASolidão no Natal: por que a data pode doer mais para alguns
O Natal costuma ser associado a união, alegria e pertencimento. No entanto, para muitas pessoas, o período pode intensificar sentimentos de solidão, tristeza e desconexão emocional. Isso acontece porque a data desperta emoções profundas, tanto positivas quanto negativas, e amplia reflexões sobre a própria vida, relações e expectativas.
Segundo a psicanalista Andrea Ladislau, o fim do ano é um momento em que frustrações, saudades, lutos, preocupações com o futuro e cobranças internas se tornam mais evidentes. “É um período naturalmente mais sensível e emotivo. Muitas pessoas revisitam o que não conseguiram realizar ao longo do ano, sentem a ausência de quem já partiu ou se veem pressionadas a demonstrar felicidade, mesmo quando não estão bem”, explica.
Esse cenário cria um contraste importante. Enquanto o imaginário natalino reforça ideias de união, afeto e acolhimento, nem todos se sentem parte dessa realidade. Para quem já vive afastamentos, isolamento social ou solidão ao longo do ano, esse contraste pode ampliar a dor emocional e gerar a sensação de não pertencimento.
Estar sozinho não é o mesmo que se sentir sozinho
A especialista destaca que existe uma diferença clara entre estar sozinho e sentir-se sozinho. “Estar sozinho é uma condição objetiva e circunstancial. Já sentir-se sozinho é uma experiência subjetiva, ligada à percepção emocional que a pessoa tem de si mesma e do mundo”, afirma.
Do ponto de vista do cérebro, a solidão é interpretada como uma desconexão emocional. Essa leitura ativa mecanismos ligados ao estresse e à insegurança, colocando o corpo e a mente em estado de alerta. No Natal, quando os estímulos emocionais são mais intensos, essa resposta tende a se amplificar.
Redes sociais aumentam a sensação de inadequação
As redes sociais também desempenham um papel importante nesse processo. Durante as festas, elas costumam exibir recortes idealizados de famílias felizes, confraternizações perfeitas e celebrações sem conflitos.
“Essa vitrine cria um cenário de comparação constante. Mesmo de forma inconsciente, a pessoa compara sua realidade com aquilo que vê, o que pode diminuir a autoestima, reforçar a solidão, a autocrítica e a sensação de inadequação”, explica Andrea. O resultado pode ser um aumento do sofrimento emocional justamente em um período que deveria ser leve.
Quando a tristeza deixa de ser apenas circunstancial
Embora sentir-se mais sensível no Natal seja comum, alguns sinais indicam que o sofrimento emocional merece atenção profissional. Entre eles estão tristeza persistente que não melhora após as festas, isolamento contínuo, alterações importantes de humor, sono ou apetite, falta de energia prolongada, autocrítica intensa e perda de motivação para atividades do dia a dia.
“Quando esses sinais se mantêm e começam a impactar a rotina e a qualidade de vida, é fundamental buscar ajuda especializada”, orienta a psicanalista.
Como atravessar o Natal com mais acolhimento emocional
Para quem sente que a solidão é inevitável nesse período, Andrea reforça que o primeiro passo é reconhecer e validar as próprias emoções. “Expressar o que se sente, verbalizar emoções e buscar uma rede de apoio são formas de ressignificar o Natal”, afirma.
Outras estratégias incluem respeitar os próprios limites, aprender a dizer não, reduzir o tempo de exposição às redes sociais e não se cobrar felicidade constante. “Está tudo bem não amar o Natal ou não se sentir bem o tempo todo. O mais importante é buscar o que promove acolhimento, bem-estar e conexão verdadeira”, finaliza.
Fonte: SAUDE.IG.COM.BR

