I.AComo diabéticos podem curtir o Natal com segurança
Para quem convive com o diabetes, o Natal costuma ser visto como um período de risco. Mesas fartas, doces tradicionais, bebidas alcoólicas e mudanças na rotina despertam medo e insegurança em relação ao controle glicêmico. No entanto, especialistas alertam que o maior desafio das festas raramente está em um alimento isolado, mas no conjunto de fatores emocionais, sociais e comportamentais que cercam esse período.
Segundo Carla de Castro, nutricionista e especialista em transtornos do neurodesenvolvimento e neuropsiquiatria, o ato de comer nas festas deixa de ser apenas nutricional e passa a ocupar um papel emocional. “Reuniões familiares, memórias afetivas, expectativas e até conflitos fazem com que a alimentação se torne uma forma de pertencimento, conforto ou alívio emocional. Isso exige um olhar muito mais amplo do que apenas contar carboidratos”, explica.
O problema do Natal não é um alimento específico
Dados da American Diabetes Association mostram que episódios isolados de consumo fora do padrão habitual, quando planejados, têm impacto muito menor do que períodos prolongados de desorganização. Ou seja, o problema raramente é a rabanada da ceia, mas a sequência de excessos que começa dias antes do Natal e se estende até depois do Ano Novo.
“A glicemia não se descompensa por um prato específico, mas pelo acúmulo de escolhas desorganizadas associadas a menos sono, mais estresse, álcool em excesso e redução da atividade física”, explica Carla.
Exagerar um dia não é o mesmo que perder o controle
Existe uma diferença clara entre um episódio pontual e um ciclo de descontrole glicêmico. Um dia fora da rotina, dentro de um contexto planejado e monitorado, costuma ser manejável. O risco surge quando o período festivo se transforma em várias semanas de desregulação alimentar e emocional.
Estudos citados pela International Diabetes Federation indicam que picos glicêmicos repetidos, associados a consumo elevado de açúcar e álcool por dias consecutivos, aumentam inflamação sistêmica, resistência à insulina e dificultam a retomada do controle mesmo após o fim das festas.
O medo de errar também prejudica o controle glicêmico
Curiosamente, o medo excessivo de “sair da linha” pode ser tão prejudicial quanto o excesso alimentar. A vivência das festas com culpa antecipada, rigidez extrema ou vigilância constante eleva os níveis de estresse, fator diretamente ligado à piora da glicemia.
“O estresse emocional aumenta a liberação de hormônios como cortisol e adrenalina, que interferem no controle glicêmico. Quando a pessoa vive o Natal em estado de alerta permanente, o impacto pode ser tão negativo quanto o excesso alimentar”, alerta a nutricionista.
Disciplina e prazer não são opostos
O equilíbrio possível nas festas de fim de ano passa por compreender que disciplina médica e prazer alimentar não se excluem. Planejamento, atenção às porções, escolhas estratégicas e respeito aos sinais do corpo permitem que o diabético participe das celebrações sem abrir mão do cuidado com a saúde.
“O Natal não precisa ser um período de medo nem de descontrole. Ele pode ser vivido com adaptação, consciência e gentileza. O foco não é perfeição, mas constância”, reforça Carla.
Para pessoas com diabetes, curtir o Natal com segurança significa manter uma relação mais tranquila com a comida, com o próprio corpo e com o contexto emocional das festas. O cuidado real está no equilíbrio ao longo do tempo e não em um único prato da ceia.
Fonte: SAUDE.IG.COM.BR

