Reprodução/FreepikVia Láctea
Um planeta gigante gasoso foi identificado nos confins da Via Láctea, surpreendendo a comunidade científica por sua localização e pelo método utilizado para sua descoberta. Batizado de AT2021uey b, o exoplaneta orbita uma estrela anã do tipo M — estrelas pequenas e frias — a cerca de 3.200 anos-luz da Terra, segundo estudo publicado na revista Astronomy & Astrophysics.
O planeta completa sua órbita em torno da estrela a cada 4.170 dias e tem massa ligeiramente superior à de Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar. Essa descoberta foi feita por meio da técnica de microlente gravitacional, uma abordagem baseada na teoria da relatividade geral de Albert Einstein.
Nessa técnica, corpos massivos — como estrelas e planetas — distorcem o espaço-tempo ao seu redor, funcionando como uma “lente” que amplifica temporariamente a luz de objetos mais distantes. Ou seja, a curvatura criada ao redor desses corpos pode alterar o caminho da luz de fontes que passam por ali. Embora esse efeito seja mais pronunciado em buracos negros e galáxias, ele também pode ser observado em objetos menos massivos, como planetas.
De acordo com a NASA, os pesquisadores da Universidade de Vilnius, na Lituânia, explicam que a relação entre o tamanho do planeta e a estrela que ele orbita foi determinante para sua detecção — encontrar um planeta rochoso e pequeno nas mesmas condições seria extremamente difícil com a técnica utilizada.
“Trata-se de um fenômeno raro. Apenas três planetas foram identificados por microlente em áreas tão afastadas do centro galáctico”explica Edita Stonkutė, astrônoma e professora da Universidade de Vilnius. Segundo ela, o AT2021uey b está localizado no halo galáctico, região periférica e pouco densa da Via Láctea, muito distante do bulbo central onde a maioria das observações se concentra.
O processo de confirmação da existência do planeta começou com uma detecção inicial em 2021 e envolveu uma análise minuciosa de dados coletados pelo telescópio Gaia, da Agência Espacial Europeia, além de observações feitas a partir de solo com telescópios da Estação Astronômica de Molėtai, na Lituânia, em colaboração com o Observatório Astronômico da Universidade de Varsóvia, na Polônia.
Marius Maskoliūna, pesquisador de astronomia e coautor do estudo, destaca os desafios envolvidos: “Esse tipo de pesquisa exige conhecimento técnico, paciência e, sinceramente, um pouco de sorte. É preciso esperar anos até que a estrela de fundo e o objeto que atua como lente se alinhem perfeitamente — e ainda vasculhar enormes volumes de dados para capturar esse breve alinhamento.”
Fonte: TECNOLOGIA.IG.COM.BR