Secretaria da Saúde de SP culpa Anvisa por caso de passageiro com variante indiana; agência rebate e diz que viajante negou sintomas

O secretário da Saúde de São Paulo, Jean Gorinchteyn, responsabilizou a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) pelo caso do passageiro que chegou da Índia ao Aeroporto de Cumbica, em Guarulhos, e foi diagnosticado nesta quarta-feira (26) com a variante indiana do coronavírus.

Em entrevista à GloboNews, o secretário disse que o viajante não poderia ter sido autorizado a circular pelo aeroporto livremente. Gorinchteyn afirmou ainda que ele já apresentava sintomas da doença, como dor de cabeça.

“Esse indivíduo não pode circular em áreas comuns, fazer uma imigração, pegar mala com outros passageiros. Ele deve ser afastado, este teste [deve ser] realizado em local privado, para que dessa forma, se vier positivo, todas as medidas de isolamento sejam realizadas”, disse o secretário.

Questionado sobre quem deveria ter barrado o passageiro, o secretário disse que “é a Anvisa que é responsável pelos aeroportos” e que “qualquer abordagem a um passageiro com sintomas ou com teste positivo deve ter encaminhamento pela agência”.

A Anvisa, no entanto, nega responsabilidade pelo caso e afirma que o passageiro foi abordado na chegada ao Brasil e declarou que não estava com sintomas.

Movimentação de passageiros no saguão do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Cumbica, Guarulhos, na manhã desta segunda-feira, 24 de maio de 2021 — Foto: NELSON ANTOINE/ESTADÃO CONTEÚDO

Movimentação de passageiros no saguão do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Cumbica, Guarulhos, na manhã desta segunda-feira, 24 de maio de 2021 — Foto: NELSON ANTOINE/ESTADÃO CONTEÚDO

“O passageiro em questão chegou ao Brasil com teste negativo, assintomático, e a agência abordou esse passageiro e mais outros 12 viajantes [com passagem pela Índia ou outras áreas de risco], antes da imigração, e lavrou para todos um Termo de Controle Sanitário do Viajante (TCSV)”, afirma a agência.

Em entrevista à GloboNews, Alex Machado, diretor da Anvisa, afirmou que “o papel da Anvisa é identificar o passageiro sintomático” e que “não havia nenhum indício de sintoma” no passageiro diagnosticado com a variante no momento da abordagem no aeroporto.

O diretor reforçou também que a quarentena, no caso deste passageiro, era obrigatória e, ao assinar o termo, ele assumiu o compromisso de se isolar por 14 dias em solo nacional e informar o local onde cumprirá o isolamento.

Após a assinatura do termo, o viajante resolveu fazer um teste para Covid-19 em um laboratório privado localizado no aeroporto de Guarulhos. Depois do exame, embarcou em um voo para o Rio de Janeiro – por ser voo doméstico, não é exigida a apresentação de nenhum exame.

Depois de chegar em Guarulhos, em um voo da Índia com escala no Catar, o passageiro de 32 anos passou ainda pelo Aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, e por sua cidade natal, Campos dos Goytacazes, antes de voltar à capital fluminense, onde está em isolamento desde segunda-feira (24).

Ele recebeu o resultado positivo para Covid-19 quando já estava no Rio de Janeiro. A Anvisa foi informada do resultado pelo laboratório.

“A agência informou as autoridades competentes para que monitorassem o viajante, o que é previsto no plano de contingência”, afirma a Anvisa.

A agência diz ainda que “não é competência da Anvisa o monitoramento de pessoas em trânsito entre estados e municípios”.

Pressão para controle em aeroportos

Movimentação no aeroporto de Guarulhos, em SP, em foto de 19 de abril de 2021 — Foto: WILLIAN MOREIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Movimentação no aeroporto de Guarulhos, em SP, em foto de 19 de abril de 2021 — Foto: WILLIAN MOREIRA/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO

Desde o último sábado (22) a Prefeitura de São Paulo e o governo do estado estão pedindo que a Anvisa adote novas medidas, mais restritivas para viajantes, com o intuito de conter a variante indiana.

A agência, no entanto, diz que elaborou uma manifestação técnica, mas que a implementação de medidas mais rigorosas, como barreiras sanitárias ou a exigência de testes para passageiros de voos domésticos, cabe aos ministérios da Saúde, da Justiça e Segurança Pública e da Infraestrutura.

A Prefeitura de São Paulo informou nesta quarta-feira (26) que vai fazer um monitoramento dos passageiros que estiveram no mesmo voo que o homem diagnosticado com a variante indiana.

A Anvisa diz que já pediu às companhias aéreas Qatar e Latam a lista de passageiros das fileiras próximas e que esta informação foi encaminhada aos Centros de Informação Estratégica em Vigilância em Saúde dos estados em que esses viajantes moram para monitoramento.

Casos da variante indiana

Com a confirmação deste passageiro de 32 anos, sobe para sete o número de pessoas contaminadas pela variante indiana do coronavírus no país.

Os outros seis são passageiros que chegaram ao Maranhão a bordo do navio MV Shandong da Zhi, atracado no litoral do estado. Há ainda outros três casos suspeitos no Distrito Federal, no Espírito Santo e em Minas Gerais.

De acordo com o governo paulista, não há registros de um caso autóctone, ou seja, com contaminação local da variante indiana no estado.

VÍDEO: O que se sabe sobre a nova variante indiana, confirmada no Brasil

VÍDEO: O que se sabe sobre a nova variante indiana, confirmada no Brasil

A variante indiana B.1.617 possui três versões, com pequenas diferenças (B.1.617.1, B.1.617.2 e B.1.617.3), descobertas entre outubro e dezembro de 2020.

As três versões apresentam mutações importantes nos genes que codificam a espícula, a proteína que fica na superfície do vírus e é responsável por conectar-se aos receptores das células humanas e dar início à infecção.

Entre as alterações, uma se destaca: E484Q, que tem algumas similaridades com a E484K, alteração encontrada nas outras três variantes de preocupação global. São elas: a B.1.1.7 (Reino Unido), a B.1.351 (África do Sul) e a P.1 (Brasil, inicialmente detectada em Manaus).

Até o momento, cientistas ainda não conseguiram estabelecer sua real velocidade de transmissão e se ela é mais transmissível, nem se ela está relacionada a quadros de Covid mais graves, que exigem internação e intubação. A eficácia das vacinas já disponíveis  contra a variante indiana também está ainda em análise.

Fonte: G1