Método Crimeia: como a Rússia vai tentar anexar mais regiões ucranianas

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Tropas russas fazem guarda em frente a usina hidrelétrica em Kherson, uma das regiões que Moscou planeja anexar por meio de referendos nas próximas semanas| Foto: EFE/EPA/SERGEI ILNITSKYOuça este conteúdo

A Rússia planeja concretizar em breve um plano na Ucrânia que poderia ser resumido com a expressão Método Crimeia: a exemplo do que ocorreu na península ucraniana em 2014, ocupada militarmente e depois anexada pelo país de Vladimir Putin por meio de um referendo de adesão que não teve reconhecimento da comunidade internacional e que foi marcado por denúncias de fraude, o Kremlin quer realizar votações em territórios ocupados no país vizinho para que se tornem parte da Federação Russa dentro das próximas semanas.

Fontes ouvidas pela Bloomberg informaram que referendos de adesão à Rússia devem ser realizados até 15 de setembro em Donetsk e Luhansk, no leste da Ucrânia, e em Kherson e Zaporizhzhia, no sul ucraniano.

No leste da Ucrânia, separatistas pró-Rússia já haviam desencadeado um conflito militar ao declarar duas repúblicas independentes em 2014, Luhansk (região hoje totalmente ocupada) e Donetsk (metade da região sob controle russo, incluindo a capital do oblast).

Já as regiões de Kherson (hoje completamente ocupada) e Zaporizhzhia (parcialmente ocupada; a capital do oblast está ainda sob controle dos ucranianos) foram invadidas a partir da guerra deflagrada por Moscou em fevereiro deste ano.

Nos territórios ocupados, o Kremlin segue o mesmo padrão para justificar as anexações: além do argumento de proteção aos “russos étnicos”, principal razão apontada para invadir a Ucrânia, a Rússia estabelece autoridades de ocupação locais fieis a Moscou, impõe o rublo como moeda local, distribui passaportes russos em massa, obriga as escolas a seguir o currículo russo e faz muita propaganda – outdoors com a mensagem “Estamos com a Rússia” se tornaram comuns nas regiões ocupadas.

Na segunda-feira passada (8), o líder da administração pró-Rússia na região de Zaporizhzhia, Yevgeny Balitsky, assinou um decreto para dar início ao processo de anexação pela Rússia.

“Estou assinando a ordem para que o comitê eleitoral central inicie os preparativos para a realização de um referendo sobre a reunificação da região de Zaporizhzhia com a Federação Russa”, declarou Balitsky.

Na semana retrasada, o Serviço de Segurança da Ucrânia informou que interceptou documentos da Rússia a respeito do referendo de anexação a ser realizado em Kherson.

Segundo comunicado da agência de segurança e inteligência, uma organização pró-Kremlin chamada Voluntários para a Rússia organizará o processo.

“Sob a supervisão dos serviços especiais russos, seus membros devem se espalhar pela região e simular que há apoio dos moradores locais aos ocupantes, bem como ajudar a filmar histórias encenadas para a TV russa”, apontou o Serviço de Segurança.

“Para isso, os ‘ativistas’ planejam organizar mais de 140 piquetes pró-russos simultâneos, 30 dos quais serão realizados no centro regional [de Kherson]. Órgãos de mídia controlados pelo Kremlin e blogueiros, que estão sendo transferidos em massa para a região, cobrirão a campanha”, acrescentou a agência, que informou ainda que a administração local foi instruída por Moscou a criar 20 “comissões eleitorais” lideradas por colaboradores locais.

O Serviço de Segurança da Ucrânia apontou, entretanto, que os próprios colaboradores da Rússia relatam “que a população de Kherson não aceita a ideia de ‘se unir’ à Rússia, resiste ativamente e aguarda a libertação dos agressores”. A Ucrânia planeja uma contraofensiva para retomar o controle da região.

Na semana passada, as autoridades de ocupação apoiadas pela Rússia em Kherson informaram que áreas do oblast de Mykolaiv também ocupadas pelos russos devem ser incorporadas à região – dessa forma, também podem ser incluídas no referendo de anexação por Moscou.

O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, disse que a realização desses referendos impossibilitaria qualquer negociação de paz com a Rússia.

“A posição do nosso país continua sendo a que sempre foi. Não desistiremos de nada do que é nosso”, declarou Zelensky. “Se os ocupantes seguirem adiante com os pseudo-referendos, eles fecharão para si qualquer chance de conversar com a Ucrânia e o mundo livre, de quem o lado russo claramente precisará em algum momento.”

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Fonte: GAZETADOPOVO.COM.BR