Polícias que desvendaram duplo assassinato em Colorado do Oeste revelam novos detalhes da crueldade contra casal de dentistas

Mulher do homem que comandou a brutalidade tinha mandado de prisão em Guajará-Mirim

Em uma entrevista coletiva na manhã desta quarta-feira, 08, na sede da PRF em Vilhena, com a participação de representantes das polícias Rodoviária Federal, Militar e Civil, foram dados os detalhes das ações que levaram a prisão do casal Nilmar dos Santos, de 38 anos, e Francineia Costa de Oliveira, 37, suspeito de assassinar seus senhorios em Colorado do Oeste. Os corpos das vítimas, o casal de dentistas Dionelia Giacometti e Eldon Mai, foram encontrados às margens de uma estrada rural, distantes cerca de 30 km um do outro.

Durante quase 1 hora, o delegado Núbio Lopes, que comanda a Delegacia de Homicídios de Vilhena, o chefe da Delegacia da PRF em Vilhena, João Lobato, o chefe do Núcleo de Policiamento e Fiscalização da PRF em Vilhena, Luiz Vivian, e o Major Carvalho, comandante do 3º BPM, responderam as perguntas dos jornalistas.

Com base no que foi revelado pelas autoridades policias na coletiva, o FOLHA DO SUL ONLINE traçou uma cronologia dos fatos.

MANHÃ DE DOMINGO
Na manhã do domingo, 05 de julho, o dentista Eldon Mai veio para Vilhena acompanhado pela empregada e o marido dela, para fazer compras, deixando a esposa em casa.

De acordo com o delegado Núbio Lopes, era por volta das 9 horas, quando Nilmar dos Santos, que era inquilino do casal, atraiu a idosa para a sua casa, alegando a ela que teria um vazamento no encanamento e a matou. O delegado, que ouviu Nilmar na tarde de ontem, disse que ele contou que atingiu a mulher com um golpe de madeira, a amordaçou, e como ela ainda tentava gritar, a enforcou com um pedaço de corda. Depois, com uma faca, ele cortou os dedos polegares e indicadores da dentista.   

Ainda de acordo com o delegado, Nilmar teria escondido o corpo m um cômodo da casa que, segundo ele, não era usado. Ele também teria vasculhado a casa a procura de dinheiro e objetos de valores, tendo pegado da bolsa da idosa os cartões bancários com os quais ele teria tentado sacar dinheiro usando os dedos amputados da vítima. 

TARDE DE DOMINGO
Era por volta das 15 horas, quando o marido da vítima, Eldon Mai, retornou de Vilhena. Deixou a empregada e o marido na casa deles e foi para a sua, sem saber que a esposa já estava morta.

Empregando o mesmo subterfúgio que usara com a esposa, Nilmar atraiu Eldon para a sua casa, e com o mesmo cabo de enxada com o qual atingira a primeira vítima, também golpeou Eldon. Depois, o amordaçou, amarrou suas mãos para trás e, com uma corda de varal o enforcou. O corpo de Eldon foi colocado junto com o da esposa.

Mais uma vez ele teria revistado a casa e, da carteira de Eldon, subtraiu uma quantia em dinheiro.  O delegado disse que Nilmar garante que agiu sozinho nas duas mortes. “Ele disse no depoimento que tanto pela manhã, quando ele matou Dionelia, quanto no período da tarde, quando assassinou Eldon, a esposa dele não estava a casa”, disse o delegado.

Ainda de acordo com o delegado, Nilmar disse também que convenceu a esposa de que os senhorios teriam emprestado o carro para que eles fossem para o Mato Grosso, e que depois eles mandariam o dinheiro da gasolina.  

Ainda no período da tarde, a empregada foi até a casa dos patrões, pois haviam combinado que comerem um assado e carneiro, e encontrou a casa aberta e uma panela no fogão com o fogo acesso.

Preocupada, ela enviou mensagem via aplicativo de conversa para a patroa. Mas, não obteve resposta imediata.  

MADRUGADA DE DOMINGO PARA SEGUNDA
Segundo o delegado, que ouviu Nilmar, o assassino contou que era por volta da meia noite quando, sozinho, ele pegou o carro das vítimas, colocou os corpos no porta-malas, dirigiu por uma estrada rural e enterrou ambos, retornando por volta das 3h30 da madrugada. Em seguida, ele a esposa vieram para Vilhena. Deixaram o carro no estacionamento da rodoviária e foram para o hotel. 

Também na madrugada de domingo para segunda-feira, a empregada das vítimas recebeu mensagens do celular da patroa que dizia para ela não ir trabalhar naquela semana, porque eles teriam ido para Pimenteiras pescar.

A empregada suspeitou da mensagem que continha erros de português que não eram comuns nos textos da patroa. E o próprio teor da mensagem que dizia que eles teriam ido pescar, mas os equipamentos de pesca do patrão, os medicamentos dele, e o fato da casa estar aberta, fizeram-na desconfiar.

SEGUNDA-FEIRA
Nas primeiras horas da segunda-feira, 06, a empregada procurou a polícia e denunciou o desaparecimento dos patrões, com os quais trabalhava havia quase 14 anos. A Polícia Militar encontrou evidências que indicavam que o casal não havia saído em viagem. E emitiram um alerta a Polícia Rodoviária Federal, dando dados do carro das vítimas.

Enquanto isso, em Vilhena, na manhã da segunda-feira, o casal fugitivo mandou lavar o veículo por dentro e por fora e voltaram para o hotel, onde permaneceram até a madrugada da terça-feira.   

TERÇA-FEIRA
Por volta das 6 horas da manhã da terça-feira, 07, o veículo do casal de dentistas, até então considerado desaparecido, foi parado no Posto da Polícia Rodoviária Federal saindo de Vilhena e tentando entrar em Mato Grosso. No carro estava o casal Nilmar e Francineia, e a filha deles, de cerca de 8 anos, que foi entregue ao Conselho Tutelar.

No veículo os policiais encontraram um celular com fotos das vítimas e dos parentes delas, e um caderno onde estava anotado o passo a passo do crime. Segundo o PRF Luiz Vivian, com tantas evidências, Nilmar acabou por confessar que havia matado o casal e se dispôs a levar a polícia até os corpos. Juntas, Polícia Militar, PRF, Civil e Polícia Técnica-Científica, foram até os locais onde os corpos estavam. O da mulher a cerca de 60 km de Colorado; o do homem, aproximadamente 30 km depois. Os dois foram enterrados. A enxada usada para cobris os corpos estava próxima ao segundo corpo encontrado.

O CADERNO
Segundo a PRF, inicialmente o casal nada falou das anotações sobre o crime. No entanto, a filha disse que o caderno era dela e que havia emprestado para a mãe, e quando recebeu de volta havia aquelas inscrições. Só então Nilmar disse que, sob o efeito de álcool, havia pedido para a mulher escrever o que ele narrava, e ela, mesmo sem saber do que se tratava, atendeu ao pedido dele.

MOTIVO DO CRIME
Segundo o delegado, pelo que foi apurada até o momento, tudo indica que o motivo do crime foi por questões financeiras.

INVESTIGAÇÃO CONTINUA
As investigações estão a cargo da Polícia Civil de Colorado do Oeste, onde  crime ocorreu. Núbio Lopes ressaltou que os trabalhos estão apenas no início. “O delegado de Colorado representou pelas prisões dos suspeitos durante as diligências. E a justiça de Colorado, extremamente rápida, deferiu as prisões temporárias do casal”, revelou o delegado.  

O delegado reforçou que se trata de uma investigação profunda e complexa, e disse que apenas começou. “Isso apenas começou, a delegacia de Colorado vai conduzir todos os trabalhos e ao final irá esclarecer os pormenores que são extremamente relevantes”, disse o delegado.

MANDADO DE PRISÃO POR TRÁFICO   
Quando o casal foi abordado pela PRF, a mulher alegou que não tinha documentos e deu um nome diferente para os policiais. Mas, durante as buscas no veículo e nas bagagens dos viajantes, os agentes policiais encontraram os documentos dela. A pesquisa evidenciou que ela tinha em aberto um mandado por tráfico de drogas emitido pela comarca de Guajará-Mirim.

INTERROGATÓRIO
De acordo com o delgado Núbio Lopes, apenas Nilmar foi ouvido por ele ontem, e durante todo o depoimento, ele tentou mostrar que agiu sozinho e que a esposa não teria qualquer envolvimento nos crimes. 

Segundo o delegado, por causa da nova lei de abuso de autoridade, Francineia não pode ser ouvida ontem. “Considerando a nova lei de abuso de autoridade, que impede interrogatório durante a noite, salvo em caso de flagrante, ontem eu não dei prosseguimento ao interrogatório, porque comecei durante o dia com o indiciado Nilmar, mas terminamos já no início da noite. Portanto, em respeito a legislação, eu não poderia começar o interrogatório da mulher”, disse o delegado, que afirmou que ela deverá ser ouvida pelo delegado de Colorado.

Fonte: Folha do Sul
Autor: Rogério Perucci