Impedidos de atravessar a fronteira pela polícia peruana, cerca de 80 imigrantes ficam retidos no Acre

Um grupo de cerca de 80 imigrantes chegou ao município de Assis Brasil, no interior do Acre, no último domingo (20), e foi impedido de passar para o lado peruano. Uma barreira policial na Ponte da Integração, que liga os dois países, tem mantido a fronteira fechada.

Conforme o secretário de Assistência Social de Assis Brasil, Quedinei Correia, o grupo, formado por homens, mulheres e crianças, de maioria haitiana e africana, caminhou até a ponte e ao ser informado de que não poderia passar para o país vizinho, retornou para a cidade acreana e está hospedado em hotéis.

Além desse grupo, a casa de passagem da prefeitura abriga um total de 25 imigrantes, de maioria venezuelana.

“Foi tudo bem pacífico, bem tranquilo e eles retornaram para hotéis. A gente vê aqui grupos de imigrantes pelas ruas da cidade, estão espalhados em hotéis. Eles tentam sair do país usando essa rota. Mesmo não estando no abrigo aqui da prefeitura, a gente fica à disposição, quando eles necessitam de alguma coisa, fazemos o atendimento”, disse o secretário.

Em fevereiro, a Ponte da Integração, que liga Assis Brasil e Iñapari, no Peru, foi ocupada por mais de 300 imigrantes. Na época, a cidade acreana chegou a ter mais de 600 imigrantes.

Abrigo montado em Assis Brasil tem 25 imigrantes atualmente — Foto: Arquivo pessoal

Fluxo migratório

Por estar na fronteira do Brasil com o Peru, o município de Assis Brasil continua registrando um fluxo migratório considerável. O secretário afirmou que os grupos têm encontrado rotas alternativas para passar para o Peru, mesmo com a fronteira fechada e, por isso, não ficam mais retidos no abrigo da cidade.

O movimento na cidade é tanto de imigrantes que chegam pelo Peru com destino às cidades brasileiras como aqueles que querem deixar o Brasil e encontram meios alternativos para passar.

Com a Ponte da Integração – que liga Assis Brasil ao Peru – fechada, muitos conseguem atravessar de barco e depois pagam os chamados coiotes para seguir viagem pelo Peru até chegar em outros países.

Fluxo migratório continua intenso na cidade do interior do Acre — Foto: Arquivo/Prefeitura

Omissão no acolhimento de imigrantes

Em entrevista ao programa Audiência Pública, da CBN Rio Branco, o defensor público federal Matheus Nascimento avaliou as políticas públicas voltadas aos imigrantes no Brasil e fez duras críticas à atuação do governo federal com relação ao tema.

O defensor lembrou que a Constituição brasileira estabelece uma série de direitos fundamentais, como direito à liberdade de expressão, de trabalho, e outros e, afirmou que, da mesma forma, os imigrantes têm esses direitos.

“Minha percepção como defensor público federal é de que falta muito do poder público em geral uma articulação da chamada política nacional migratória, em que sejam definidos os papeis do governo federal, do governo estadual, dos municípios nesse trabalho. O governo federal tem sido muito omisso nessa questão de política migratória nacional como um todo. Existe uma grande vulnerabilidade dessas pessoas e é importante que o poder público em geral se capacite, entenda que é necessário criar uma política pública para isso”, afirmou.

Nascimento também lembrou dos tipos de imigração. “Basicamente existem dois tipos de imigração, a imigração voluntária e a imigração forçada. A voluntária é, por exemplo, uma pessoa que vai fazer um intercâmbio, uma pós-graduação, vai a trabalho, tratamento de saúde. Mas, existem aqueles imigrantes que são forçados, que alguma situação no seu país de origem faz com que ele saia dali, uma perseguição política, étnica, religiosa, ou fugindo realmente da fome.”

Pastoral do Migrante

A situação dos imigrantes no estado também é acompanhada de perto pela Pastoral do Migrante das Cáritas Diocesana. Esse grupo faz o trabalho de acolhimento, suporte e consegue mantimentos para esses estrangeiros.

Aurinete Brasil, vice-coordenadora da pastoral, explica que o fluxo migratório tem sido bem mais intenso de pessoas que entram pela fronteira do Acre com Peru e Bolívia com destino às cidades brasileiras como São Paulo, Florianópolis e Porto Alegre. Por dia, chegam em média 50 a 100 imigrantes no estado acreano.

Atualmente, a pastoral acompanha 104 famílias de migrantes que vivem em Rio Branco e que não estão em um dos dois abrigos públicos da capital – ou o Centro Dia, mantido pelo estado, ou o abrigo do bairro Rui Lino, financiado pela prefeitura.

Conforme Aurinete, a pastoral não atua só na entrega de alimentos e kits de higiene, mas também consegue ajudar muitos estrangeiros a resolver as questões documentais e, inclusive, vagas de emprego tanto no Acre, como em contato com lideranças de outros estados.

“O que a gente percebe que é preciso que todos, tanto a sociedade, os órgãos públicos, as organizações não governamentais, pessoas do bem que precisam se unir nessa ciranda para poder fazer aquilo que a gente diz no âmbito dos quatro verbos que papa nos pediu como igreja, como seres humanos, acolher, proteger, promover e integrar migrantes e refugiados”, afirmou Aurinete.

Semana Nacional do Migrante

A vice-coordenadora lembrou da Semana Nacional do Migrante. No próximo dia 25 de junho é dia do imigrante.

“Todo ano existe a semana nacional do migrante, de 13 a 20 de junho. E o dia 20 de junho é dedicado aos refugiados, então realizamos celebrações e estamos recebendo essas doações. Acompanhamos 104 famílias, sendo a maioria de venezuelos, e também temos cubanos. Nosso papel como igreja também é instigar o estado para voltar as políticas a serviço das pessoas. Então, é na garantia desses direitos que fazemos os encaminhamentos, articulamos com as secretarias, ou seja, fazemos a política acontecer.”

Fonte: juruaemtempo